Os sonetos aprisionados nessas páginas-gaiolas, como diria Mário Quintana, desse modesto livro-prisão, representam a aprendizagem da magia alquímica de transformar sentimentos em um punhado de palavras. São as primeiras garatujas do exercitar poético, os primeiros ganidos de uma poesia ingênua e despretensiosa. Sonetos, apenas sonetos simbólicos e rudes dos sentimentos juvenis, dos primeiros amores, dos primeiros contatos com a realidade social, das primeiras decepções. Sonetos que possuem muitas imperfeições, que foram deixados como foram paridos, para mostrar em sua simplicidade toda a gama de sentimentos que perpassam a alma adolescente. Apenas sonetos... Hão de ficar chocados, aqueles que propugnam pelo desnudar o verso do rigor formalista, dos cânones tradicionais. Hão de ficar chocados, por vê-los aprisionados na forma de sonetos. Hão de ficar chocados, por crer que a criatividade fica tolhida, quando se lhe impõem regras fixas. Porém, exercito o estro, na seara que melhor se me apresenta, conquanto me seja agradável a colheita. A roupagem dos versos é uma questão de estado de espírito. Leitor amigo, basta de explicações, essas deixo-as para as críticas de velhos rabugentos que, pelas minhas imperfeições, me julgam indigno de "flertar" com as musas e de jovens intoxicados com ideias deformantes e alienígenas, que me tem por arcaico, por "transar a mina" à moda antiga. Mas, você que não está preocupado com discussões inócuas, relaxe. Dispa-se dos conceitos e preconceitos. Mergulhe no mundo dos sonhos e rebusque os recônditos da alma e da memória. Você irá reencontrar um mundo vasto, esquecido em gavetas emboloradas. Retire as teias de aranha que as cobrem e revire os seus papeis. A fotografia da primeira namorada, cartas puídas, mensagens esquecidas, situações engraçadas, tristes, situações... esperanças desfeitas, amores esquecidos, decepções tantas, lembranças... lugares, festas, figuras, passado... Abra as gavetas, uma a uma, até tê-las revistado a todas. Pegue tudo e guarde com cuidado. Assim você terá um sacrário de recordações... uma ETERNA SA(N)GRAÇÃO...