Os estudos culturais têm um compromisso político de desnaturalizar construções que vão se sedimentando na cultura trazendo limites muito diversos para a vida das pessoas. Contestar as barreiras de gênero, de raça, de classe, de deficiência, de território, entre outras que impedem que a diversidade seja possível é parte desta tarefa acadêmica e cotidiana. A interseccionalidade tem sido apropriada como uma categoria que permite identificar quando mais de um desses marcadores sociais está na base das violências e opressões sofridas pelas pessoas que não correspondem à normatividade vigente.
Considerando a complexidade do fenômeno cultural, vemos nos capítulos deste livro a busca comum em garantir voz e escuta aos discursos, muitas vezes marginais.
Discursos esses que acontecem em diversificados cotidianos educacionais das escolas, dos institutos federais, das universidades, em produções cinematográficas e artísticas, em movimentos de luta protagonizados por mulheres, em resgate histórico que remonta ao protagonismo da mulher negra no período da escravidão, em experiências de lazer de mulheres negras e mulheres que vivem em sua lida diária com filhos com síndrome de Down, nas asas do vento e do tempo das bicicletas
apropriadas pelas mulheres descortinando novos horizontes e também com as pessoas com deficiência demarcando seu lugar no mundo como enfrentamentos aos interditos sociais pautados nos marcadores sociais que divergem das apertadas normas nas quais não cabem todas as pessoas.
O eixo de sentido, que guiou a construção dos textos, foi a percepção de que, em
quaisquer das vivências, a dinâmica da interseccionalidade de gênero, raça, classe, deficiência está presente dizendo dos territórios ocupados e dos que precisam ser desocupados, para que a vida com dignidade seja uma possibilidade para todas as pessoas, na condição de direito inalienável e não um privilégio ou derivado da ideologia
da meritocracia.