A autora, uma psicanalista clínica carioca, relata, de forma divertida e nada maniqueísta, o enredo de relações entre homens e mulheres que vivem nas grandes cidades. Conclui que inteligência não imuniza a mulher contra o jogo de sedução e que a intimidade sexual não elimina a estranheza emocional. "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". A célebre frase de Vinícius de Moraes, aplicada ao relacionamento amoroso sob a ótica feminina, em tempos cada vez mais velozes e fugazes, dá a tônica do livro "Estranhos Íntimos",
escrito pela psicanalista Márcia Infante e publicado pela editora Outras Letras. Com a experiência de 30 anos de prática
clínica, na escuta diária de homens e mulheres às voltas com suas questões afetivas, a autora transformou uma conversa entre amigas no ponto de
partida para a criação do livro. Desde 2006, Márcia e mais quatro amigas se reúnem para conversar sobre os mais diversos assuntos, entre eles, claro, as venturas e desventuras amorosas de jovens mulheres maduras, independentes e inteligentes. "Esses encontros e desencontros ocorrem entre homens e mulheres recém separados, separados convictos, solteiros, viúvos, amantes, na faixa etária que pode iniciar-se a qualquer momento, na medida em que se esteja vivo e aberto para novas experiências", conta a psicanalista, na introdução do livro. Como se
encontrava debruçada sobre o estudo dos relacionamentos amorosos cotidianos, ela juntou o enredo do bate papo entre amigas aos relatos de consultório e transformou-os em deliciosas histórias.
Em sua narrativa, Márcia busca mostrar os diferentes ângulos de uma relação, ora focada no "eu" como o centro do universo desta, ora na visão que temos do "outro". Os diálogos entre amantes e aquilo que só ousamos falar em pensamento – ingredientes básicos de um envolvimento afetivo – também apimentam o livro, que, em seu capítulo final, traz uma reflexão da autora sobre as histórias nele contadas.
Para quem se delicia lendo sobre casos e acasos da vida amorosa, "Estranhos Íntimos" é uma excelente fonte de curiosas situações, que, no entanto, poderiam acontecer com qualquer pessoa. "São experiências de todas as pessoas que estejam abertas para viver o cotidiano. Certamente, leitor ou leitora, ao terminar de ler, você vai dizer: já vivi essa história", conclui Márcia.