O livro trata do processo de divisão do continente americano em duas Américas racialmente antagônicas: Estados Unidos e América Latina. A América Latina ressurge aqui para o leitor não como a descrição, de alguma forma objetiva, de um espaço físico ou de uma cultura homogênea que lá está assentada, mas como a transmutação histórica do espaço colonial ibérico em Estados-nação periféricos. Essa mudança, apesar de conter em si múltiplos sonhos e lutas por autonomia política, reproduziu e conservou as ordens raciais locais espalhadas pelo continente como expressões de uma ordem social transnacional que perdura no tempo. A hierarquia racial global moderna, gestada no processo das colonizações europeias, continua a operar dentro e através das fronteiras nacionais do continente americano, não somente porque lhes é anterior cronologicamente, mas porque a ideia de raça normatizada a partir da Europa condicionou a formação das identidades nacionais, as hierarquias sociais e os padrões e as possibilidades de interação interamericanos.