Os motoqueiros me enlouqueciam. Chegava a abordar alguns para perguntar quanto estavam ganhando para "fazer o serviço" de me perseguir para recolher informações sobre minha rotina. Sozinho em casa, revirava o guarda-roupas atrás de alguma escuta escondida ou câmera. Procurava eletrônicos que pudessem estar me espionando debaixo do sofá, nos armários da cozinha, dentro de eletrodomésticos, de eletrônicos, no aparelho de tevê, em controles remotos, nos relógios, no meio do colchão. O helicóptero que sobrevoava o bairro me irritava. A ex-namorada era alvo constante de ataques digitais com a paranoia como combustível.
Era assim que me sentia o tempo todo no uso desenfreado de cocaína e álcool, com pensamentos conturbados, mania de perseguição, delírios, obsessão, mergulhado na raiva, uma erupção de sentimentos negativos inflamados por dias sem dormir, intolerância e um perigoso isolamento.
Esquizopó é a junção da cocaína e insanidades cometidas sob os seus efeitos. As narrativas sinceras e destemidas mostram a deterioração do caráter no uso da substância e o tratamento com uma rotina de conflitos, desafios e condições precárias em um centro para dependentes químicos. A reflexão sobre a vida resulta numa jornada de superação e transformação pessoal. Redenção. A obra deixa enraizado que a dependência química é uma doença e atenta ao fato de dependentes serem alvo de preconceito. A obra aborda temas universais, a luta contra a dependência química e a importância da sobriedade.