Esquizofrenia: seus fenômenos perceptivos e cognitivos na primeira pessoa começou a ser escrito em 1993, cerca de oito anos após meu primeiro surto, em dezembro de 1985, quando tive meu primeiro contato com a esquizofrenia. A partir de então, saí e entrei em surto em diversos graus de gravidade e observei que vários fenômenos visuais, auditivos, sinestésicos e cognitivos se reproduziam e variavam de acordo com a severidade do surto. Comentando esse conhecimento adquirido com um pesquisador, foi-me retrucado que é para isso que se escrevem livros. E daí nasceu a ideia de fazer uma coletânea dos sintomas perceptivos e cognitivos muito peculiares, que haviam sido repetidamente observados, que variavam com o agravamento do surto e que desapareciam após o tratamento medicamentoso. Assim, em junho de 1993, comecei a fazer anotações e rabiscar um livro. Fiz um índice de tópicos a serem abordados à medida que me recordava de detalhes a serem mencionados. Inicialmente quis fazer um livro relacionando esses fenômenos às artes, pois estão intensamente presentes em todas as suas formas. Usei exemplos de Salvador Dalí e Raul Seixas, mas me perdi em tantas possibilidades e detalhes. O livro foi escrito inicialmente na fase pródroma de meu último surto e tenta descrever em detalhes as confusões cognitivas, as sensações alteradas e como certos eventos se reproduziam, e se reproduzem. Na segunda parte, descrevo o que ocorreu desde meu diagnóstico, que só se deu em 1994. A partir de então, busquei relatar não só o que se passou no último surto, mas também as pesquisas que foram geradas com base nos fenômenos observados.
O propósito deste livro é ajudar o leitor a identificar os fenômenos que se passam na mente da pessoa com esquizofrenia. É ajudar a prevenir surtos em pessoas suscetíveis. O fato de que "se eu soubesse o que eu sei hoje naquela época, nunca teria entrado em surto" é o que motiva divulgar o livro e revelar detalhes tão íntimos de minha vida.