Analisamos aqui as condutas sociais de alunos residentes em favelas, bem como as ações e reações da escola diante dessas condutas, buscando identificar possíveis semelhanças e diferenças entre alunos cujas famílias, apesar de residirem em favela, ocupam posição social distintas. As condutas sociais apresentadas pelas crianças faveladas expressam uma hierarquia pouco evidente, mas presente, de posições sociais que as diferenciam e de que os padrões sociais aceitos pelos professores reforçam essa hierarquia. Utilizaram-se como aporte teórico as contribuições de Pierre Bourdieu, especialmente no que se refere aos conceitos de capital cultural e habitus, para análise dos padrões de condutas colocados em ação por crianças moradoras de favela em ambiente familiar e na escola. O procedimento básico foi a observação sistemática do comportamento natural dos padrões de condutas dos alunos em diferentes momentos de sua vida no lar, na vizinhança e na escola. Foram selecionadas três alunas e três alunos de uma escola estadual, localizada na Região Sul da cidade de São Paulo, cuja maioria do alunado é residente de favelas da região. O principal achado foi a constatação de uma espécie de homologia entre as condições e práticas sociais da escola com as crianças cujas famílias possuem "posição social mais elevada", embora uma delas tenha conseguido romper este círculo vicioso e, apesar de ser uma das mais pobres entre os sujeitos pesquisados, conseguir obter bom rendimento e relativa aceitação na escola.