"Era uma vez..." costuma ser uma expressão bastante comum e utilizada por muitos para dar início a alguma história, especialmente de cunho infantil. Utilizando-se dela, o narrador tende a convidar o leitor ou ouvinte a interromper o que está fazendo e a disponibilizar sua atenção ou imaginação para com ele ingressar em um enredo a ser conjuntamente desvelado.
Escapando a essa regra, em Era uma vez... Realidade Talvez – Ampliando debates sobrevulnerabilidade sociala expressão "Era uma vez..." não traz em primeira mão um convite para o mágico universo literário infantil. Ao contrário, o tom de ficção de suas narrativas convida o leitor a abrir os olhos e a enxergar mais nitidamente as mazelas presentes em duras realidades humanas. Especificamente nesta obra, o título "Era uma vez...", diferente do que se pode considerar como marco de um início, preconiza a continuidade de um projeto de publicação que, seguindo o mesmo formato de seu volume 1, intitulado Era uma vez... Realidade Talvez – Contos e reflexões sobre vulnerabilidade social, apresenta um conjunto de narrativas sobre cenas comuns ao público brasileiro por meio de diferentes gêneros (contos, crônicas, poema) e perspectivas, em que o autor é ora o espectador, ora o protagonista dessas experiências.
Neste volume 2 da coleção Era uma vez... Realidade Talvez, ampliam-se os debates sobre vulnerabilidade social e os autores, a partir da pluralidade de suas formações pessoais e profissionais, compartilham o olhar aguçado sobre diferentes situações do cotidiano e seus atravessamentos regidos pelas condições de precarização do viver e do existir, em que as vulnerabilidades e manifestações da violência em suas diferentes dimensões (física, psicológica, estrutural, social, cultural)impõem suas presenças e consequências. Os efeitos delas não se limitam aos personagens quando do encerramento de cada história, mas seguem adiante em expressões de reflexões e ponderações de outros autores que, igualmente convidados a participar desta obra, dão início a um debate sobre cada narrativa, de maneira a provocar no leitor inquietações, curiosidades e afetações diversas. E este é o ponto: trazer ao leitor essas narrativas e reflexões para que, pelas afetações mobilizadas, faça a si mesmo os questionamentos: o que penso sobre isso? O que sinto? Como isso me impacta? Compreendemos que as respostas a essas perguntas não são simples, diretas e nem se esgotam num único momento, mas se iniciam no processo constante de reconhecimentos e reflexões tão caros ao desenvolvimento de nossas sensibilidades.