Em Era uma vez no interior: estórias não contadas, o autor nos remete ao processo de entrada, conquista e dominação do interior, em particular do meio-oeste paulista, dando notícias de como se fundaram as estruturas econômicas regionais, e com elas as famílias de fazendeiros e cafeicultores. Revela a lógica, dinâmica e processos de interações e poder dos sujeitos chamados de SENHORES.
A narrativa se fixa na trajetória de uma família fictícia, em que um de seus descendentes assume o lugar de protagonista e, para além de seus atos e feitos, sutilmente se revela como sujeito, homem, em sua luta para corresponder aos valores da sociedade.
Revela, também, como essas famílias foram afetadas pelos acontecimentos ao longo de suas trajetórias e das mudanças sociais, econômicas, do tempo e, acima de tudo, como por elas ficaram expostas e fragilizadas.
A trama desta obra aponta, ainda, para outro campo das conquistas e domínio, a do matrimônio, parcerias e acordos de negócios são firmados nas uniões de famílias. Mas a vida, às vezes, é cruel e implacável, perdas afetivas ocorrem, crises econômicas mundiais emergem, e revoltas locais anunciam, veladamente, que o controle e estabilidade forjados, em seus primórdios, por essas famílias do interior, já não existem mais.
Em meio a fatos e acontecimentos externos, surgem tentativas de resgatar a identidade pessoal e a unidade familiar, por meio das estórias sobre feitos e mitos familiares, contadas tanto pelos descendentes como pelos antigos cúmplices e silenciosos empregados. Essas tentativas, entretanto, também podem resultar em outras constatações.
Por fim, o resgate, a partir de um novo protagonista e descendente direto, elemento da quinta geração, que ilumina novamente o percurso da família, não mais daquela família de outrora, mas de outra composta por homens e mulheres, seres humanos portadores de qualidades e fraquezas, angústias, temores e conquistas e, acima de tudo, sujeitos de suas épocas e estórias, muitas delas nunca contadas.