Em Épuras do Social, Joel Rufino dos Santos aborda uma questão inquietante, proposta no subtítulo do livro: "Como podem os intelectuais trabalhar para os pobres". A proposição, aparentemente simples, envolve na realidade uma série complexa de coordenadas sociais, humanas, políticas, relacionadas com a história, a crítica literária, a filosofia, a teoria da comunicação. Não basta querer, arregaçar as mangas e fazer. Para chegar aí, como numa cansativa corrida de obstáculos, é preciso disposição, superação, mas também uma nova atitude diante do problema. Descrente dos intelectuais, acreditando como Brecht na sua "ruindade de coração", Rufino nutre porém uma secreta dúvida de que talvez esteja equivocado. Afinal, sendo homens como quaisquer outros, por que os intelectuais não podem auxiliar os pobres? Mas o que são pobres? Para definir o problema com precisão, sem "nada de vago filosofismo, de afirmativas sem lastro histórico-social" (Muniz Sodré), Rufino baseia o seu raciocínio em uma longa análise de clássicos da literatura realista brasileira e da sociologia acadêmica, para em seguida responder a outra pergunta não menos imprecisa: O que são intelectuais? Aqui o diálogo se estende a figuras tão dessemelhantes como Roland Barthes e Adoniran Barbosa, Raul Pompeia e Carolina Maria de Jesus. Na análise da mutação histórica da cultura (capítulo que esclarece a razão do título do livro), o autor estuda o pensamento de Braudel, Marcuse, Fernando Henrique Cardoso, para terminar com uma conclusão provocativa: os intelectuais que trabalham para os pobres, apenas o fazem para que os pobres continuem trabalhando para eles. É contra essa situação que Rufino se volta, propondo uma nova forma de ação sistemática dos intelectuais a favor dos pobres. O desafio está lançado.