A jornada da vida para o animal humano acontece em uma dimensão na qual a costura entre os espaços e as temporalidades irão fundamentar a integração psicossomática e a identidade que se alicerçará nessa base biológica. Essa caminhada é repleta de desafios, e um deles se apresenta por meio dos encontros e desencontros entre a natureza temporal do corpo e a essência atemporal do inconsciente. Essa trama será encenada no palco das relações subjetivas e objetivas, e a qualidade no manejo desse conflito irá permear os processos de luto necessários para que o indivíduo se insira no campo das relações sociais de maneira excitante e em condições de estabelecer intimidades. Os desvios, as manobras, as habilidades maturadas por meio da experiência e tantos outros recursos irão escrever a história da vida particular de cada um de nós. Este livro debruça-se sobre os mistérios dos processos demenciais e, por meio de fragmentos de casos clínicos, vislumbra a possibilidade de concebê-los como alternativas defensivas diante da impossibilidade de ajuste entre a temporalidade e a atemporalidade das partes que nos compõem. Apoiados no conceito de "envelhescência", na metapsicologia psicanalítica e na prática clínica sustentada pela interpretação da transferência, apresentamos uma concepção dos processos demenciais sob um prisma que o coloca como um arranjo possível para dar conta dos conflitos que a natureza finita da vida representa. Este livro trata, portanto, de uma investigação a respeito de um quadro psicopatológico no qual ocorre um manejo particular do tempo, que só é possível pela recusa do presente e de um regresso — em um tipo de psicose alucinatória carregada de desejo – que insere o psicossoma em um tempo que nega a essência do próprio tempo. O texto dedica-se também a pensar a prática psicanalítica como um terreno fértil para possibilitar novas costuras diante do existir e que se tornam possíveis por meio de um cuidar que ocorre na relação transferencial.