Sem querer negar ao Historiador de Halicarnasso o estatuto de pioneiro em um gênero novo – a História – este livro o aproxima, tanto no que é relativo ao estilo, quanto ao que é relativo ao conteúdo, ao mensageiro trágico. O autor possui uma relação estreita com a produção teatral de seu tempo, partilhando de profundas afinidades com a filosofia veiculada pelos trágicos do século V. A partir das Histórias e de suas marcas de historicidade e de ficção, temos a possível comparação entre o historiador e a personagem da tragédia. O Heródoto mensageiro nos dá em seus relatos a expressão de suas emoções e opiniões, bem como na das personagens que apresenta. As histórias narradas, a partir da autoridade daquele que conta o que ele próprio viu e mais ninguém, levam ao conhecimento do povo grego as informações sobre aquilo que estava além de seu alcance. No momento da narração, estas mesmas histórias são transcriadas, tal qual pelo mensageiro nas peças teatrais da tragédia grega, ganhando representações pessoais que visavam convencer e seduzir. Conclusão: os sentimentos, as angústias e as tendências dos homens da época foram compartilhados na escrita das Histórias, produzindo uma obra singular ao longo dos tempos, com um cunho de atualidade para cada época que a analisaria, graças à percepção e transmissão de uma narrativa original e caracterizada pela quebra de barreira entre a ficção e a realidade.