A escrita do livro Entre giros e giras: por onde trilha o empoderamento feminino na Folia de Reis foi guiada pelo desejo de mostrar e analisar a trajetória de mulheres no contexto androcêntrico das Folias de Reis da cidade de Leopoldina – MG. No transcorrer da pesquisa foi possível compreender que a mulher não se inseriu tardiamente nesse universo, como possa supor um observador descontextualizado e apressado. Ela sempre esteve intrinsecamente inserida, envolvida e absorvida pelas demandas da manifestação em honra aos Santos Reis, porém em lugares e funções invizibilizados. Por um viés interdisciplinar, tangendo as perspectivas etnográfica, sociológica, antropológica, histórica e com um olhar sensível para o contexto artístico que se desvela, o desafio foi lançado com a necessidade de análise das relações de poder existentes em uma encruzilhada onde se encontram religião, mulher e folia. Como se estruturou essa relação no passado, que desdobramentos dessa relação contemplam as mulheres hoje e como sua agência atual, suas possibilidades de liderança que já se legitimam, projetam um futuro feminino nas Folias de Reis se expressam como demandas essenciais deste livro. Para refletir sobre isso se tomou por base quatro grupos de folias leopoldinenses: Folia da Serra, Folia dos Colodinos, Folia da Maú e Folia da Luíza. Quais caminhos as líderes de folia traçaram ou lhes foram oferecidos que não se desvelaram para as outras que continuam à margem das esferas de visibilidade e poder da folia? Teriam esses caminhos tão diversos base religiosa? Quais legitimações e proibições mitológicas, representantes de uma estrutura de pensamento, impuseram-se no refreamento ou impulsionamento da agência autônoma das mulheres nesse cenário? Tais questionamentos suscitaram uma investigação rizomática, que demandaram uma análise balizada pela categoria de gênero que só se anuncia plenamente na interseccionalidade. Sobre as tensões e ressignificações desses caminhos que me debrucei a percorrer e investigar suas causas e consequências, que se desvelam e se expressam em uma tradição cultural cambiante devotada aos santos peregrinos.