Neste livro são situados tópicos centrais da prosa de Guimarães Rosa, a partir de diferentes registros teóricos, oriundos principalmente do campo da filosofia. Desvela-se, assim, a riqueza de um imaginário e de uma narrativa inesgotáveis, os quais, dotados de uma qualidade reflexiva ímpar, possuem a peculiaridade de operar entre o dito e o não dito, isto é, entre a emergência do sujeito em sua inefabilidade de etapas de formação e a contingência histórica que o cerca. A palavra literária, incorporando toda a densidade da linguagem falada, produz diferentes camadas de sentido, pondo em questão a essência da destinação humana como um ser de situação, de limites e de dilemas morais e éticos. Ratifica-se, com isso, o status de Guimarães Rosa como um clássico, não apenas da literatura brasileira, mas da própria história do pensamento ocidental, devido ao seu elevado teor reflexivo e sua linguagem peculiar, capaz de se reinventar a cada movimento da escrita. Nele encontramos tanto tópicos do idealismo de Platão como germes do questionamento da técnica na época moderna, e isso sempre a partir da geografia do sertão, isto é, desde uma distância que é, ao mesmo tempo, proximidade.