Entre crianças, personagens e monstros é o resultado de uma pesquisa de cunho etnográfico sobre jogos e brincadeiras infantis, feita com crianças da educação infantil e do primeiro segmento do ensino fundamental (de três a sete anos de idade), envolvendo ainda professores, direção da escola e, vez ou outra, pais de alunos.
Tarefa ousada para um jovem antropólogo como Guilherme Fians. Os antropólogos clássicos e vitorianos, ao compararem a mentalidade primitiva com a mentalidade infantil, sugerem que, por não estarem cientes das leis da natureza, os povos primitivos explicam os acontecimentos por leis divinas, e, ao não conseguirem perceber as relações causais de forma clara, estariam se enganando. De forma similar, as crianças estariam se enganando ao acreditarem em monstros ou ao "acharem" que são super-heróis durante um faz de conta.
Do mesmo modo, para etnografar as brincadeiras infantis, o autor não tem como evitar que a sua pesquisa esbarre, todo o tempo, na tradição ontológica arraigada nas noções do que é "de verdade" e do que é "de mentira", bem como nas regras instáveis das brincadeiras. Colocado de outra maneira, como escapar das distinções fáceis entre "mundo adulto" e "mundo infantil"? Ou o que é "sério" e o que é de "brincadeira"?
Valendo-se de uma corrente antropológica contemporânea, denominada antropologia simétrica, Guilherme Fians vence com sobras os desafios ao levar realmente a sério os conceitos e práticas que as crianças formulam quando brincam.Ao levar as crianças a sério, o autor elabora uma antropologia que não é simplesmente "sobre a infância", mas "da infância", no sentido em que é escrita "do ponto de vista das crianças".