Curtas-metragens feitos por diretoras brasileiras (1966-1985)
Este livro analisa o cinema feito por mulheres a partir do levantamento e análise dos curta-metragens feitos por diretoras brasileiras na ditadura civil-militar. Como contribuição à historiografia do cinema brasileiro, é apresentado o levantamento de uma filmografia, que conta com 222 filmes feitos por 121 cineastas diferentes, além da análise fílmica de dez curtas.
Ao longo do livro, as análises das obras e dos dados encontrados são entrelaçadas pelo contexto social e cinematográfico, relacionando, por exemplo, a circulação do pensamento feminista nos filmes e em jornais pertencentes à imprensa alternativa.
A partir da análise comparada destes dois meios de comunicação, a autora investiga lacunas deixadas pela historiografia, como as relações entre o trabalho das cineastas e as pautas do movimento feminista de Segunda Onda, um aporte original deste livro. São examinados também os impactos da abertura das escolas de cinema no Brasil na produção das diretoras brasileiras no período, além de avanços e manutenções de desafios relativos ao acesso das mulheres ao fazer cinematográfico.
Por fim, são apresentadas algumas iniciativas feministas desenvolvidas pelas cineastas, no contexto estudado, para pensar as desigualdades de gênero dentro do meio audiovisual e propor soluções. Percebendo a história como construção de mais um dos espaços de poder, faz-se aqui uma revisão crítica, resistência frente a um processo ativo de esquecimento das contribuições das mulheres para o cinema brasileiro.
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Neste estudo inovador, que contribui para a revisão da história do cinema brasileiro, Nayla Guerra coloca em primeiro plano aquilo que foi apagado da história: filmes de curta-metragem dirigidos por mulheres no período da ditadura civil-militar. O resultado da busca incansável e minuciosa em textos e acervos foi o mapeamento de mais de 200 curtas-metragens, a maioria desconhecidos, muitos danificados ou destruídos.
Ao questionar se existe uma história das mulheres, Michelle Perrot sugere que a presença das mulheres na história foi frequentemente apagada por conta da falta de vestígios e de interesse público em guardar e preservar documentos que mostrassem como elas viviam, pensavam e sentiam os tempos em que viveram. Nayla vai em busca desses vestígios (em filmes, documentos, livros, textos jornalísticos) para traçar as trajetórias até então invisíveis de cineastas brasileiras.
O método adotado na pesquisa consiste na busca de nomes de mulheres que realizaram filmes entre os anos de 1964 e 1985.Os nomes ganham rostos e histórias na medida em que novos dados são coletados e descobertas são realizadas. A partir do mapeamento e análise dos filmes, revelam-se trajetórias de resistência e de militância feminista. Com os filmes de baixo orçamento – que davam visibilidade às questões relativas ao contexto político, econômico e social da época –, as cineastas faziam um contraponto ao projeto moral da ditadura (família, valores heteronormativos e submissão das mulheres).
Ao trazer essas realizadoras para o primeiro plano, o livro tece uma ponte entre o individual e o coletivo, o pessoal e o político e as histórias das mulheres no cinema e do curta-metragem no Brasil. (Patrícia Machado)