O capitólio de Márcio Grings reside em fórmulas desordenadas de narrativa. Contudo, há ordem nessa desordem. Em Engarrafando o Vento, regularmente temos prosa pulverizada de poesia, como também nos deparamos com o prosaísmo lírico que habita nele. Assim "o Boeing voa & a roleta gira" — ácido ou bem-humorado, sardônico ou cético, eventualmente contraditório. Há constantes flertes com o misantropo que Márcio Grings sugere ser, alusões ao ser antissocial que ele eventualmente dissimula e o consequente retrato do homem que realmente é. Ao eclodir esse vórtice panorâmico, seu découpé explora imagens, fluxos de consciência, colagens, referências a obras literárias/cinematográficas, além de escritos sobre música que rogam por uma trilha sonora... E vice-versa. Engarrafando o Vento não passa de uma declaração de amor ao verso livre, tratado particular que destitui barreiras entre gêneros literários.