O Grupo Teatral Desencanto se tornou uma companhia teatral atuante nas manifestações culturais e religiosas de Trindade, marcado por uma singularidade, por atuar em vários momentos de organização e participação de festividades regionais por meio da produção de vestimentas e estilos multiplurais de arte, seja pelo teatro, pela dança e outras expressões. A inserção do grupo nessas produções é revelada por sua estética variada, ora profanos no Carnaval de Rua e peças diversificadas, ora cenários sagrados na Caminhada de Fé com peças teatrais sacras. A partir disso, analisa-se as representações culturais e estéticas das vestimentas identitárias que foram construídas pelo Grupo Desencanto de Trindade, Goiás, na "Caminhada de Fé", entre 2018 a 2019. Assim, esta obra se propõe a contribuir para compreender os múltiplos espaços revelados por símbolos que vinculam as pessoas aos lugares, além de permitir desvendar os contextos estéticos das vestimentas alusivas aos eventos, tanto profanos quanto sacros que podem estar presentes em qualquer espaço social. Desse modo, a investigação das vestimentas pode desvendar os movimentos locais de Trindade promovidos a partir do Grupo Teatral Desencanto. Aborda-se a encenação da Vida, Paixão e Morte de Jesus Cristo, realizada pelo grupo teatral; abrange a história da romaria em Trindade, seus autores e produtores; apresenta a paixão e o pastiche entre os figurinos das representações da Vida e Morte de Jesus, em relação à encenação da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém (Recife) desde 1951, e com as manifestações similares divulgadas nas mídias, analisando se há uma tendência de outras cores, formas etc.; apresenta discussão sobre fé e estética, do profano ao sagrado; discute sobre quais as simbologias representadas pelos figurinos sacros do Grupo Desencanto; explana as teias de sociabilidades constituídas nos processos de criação, produção e uso das vestimentas do grupo para os eventos propostos. São apresentadas as vestimentas identitárias como representações culturais e estéticas e analisadas se estas possuem um conjunto de características que as definem como sendo diferentes ou únicas. Ainda, se essas vestimentas podem ser caracterizadas como parte do grupo, definindo-o e apontando suas particularidades, sejam elas culturais ou estéticas. Nesse contexto, percebe- se que o significado está no fato de usar elementos da história local e da estética contemporânea. Durante os anos de atuação do grupo, pôde ser percebida uma transição de identidades culturais que vem com apelos estéticos diferenciados na feitura das vestimentas. Acompanhar essa transição via registros fotográficos, acervos icnográficos pessoais, relatos e outros, promoveu um inovador caminho metodológico para o campo dos estudos goianos que buscou compreender e analisar a construção das identidades regionais nos espaços festivos locais. Elas não são fixas ou rígidas, mas a pesquisa apresenta suas transformações e suas dinâmicas. Vários relatos de estruturação cultural que evoluíram durante os trinta anos de atuação do Desencanto fazem parte da construção desta obra. Aqui, pretendeu-se promover o registro e o acúmulo dos acontecimentos cotidianos, da história, dos costumes, da própria cultura e dos saberes empíricos, os quais foram construídos nesses trinta anos de existência.