Como a psicanálise, nascida com Sigmund Freud em Viena
no final do século XIX, poderia continuar a ser atual na sua
oferta clínica junto ao sofrimento psíquico, hoje e na América
Latina, diante de um contexto econômico neoliberal sem
freios? Qual o seu valor contemporâneo?
Izabella Chaves traz as chaves, nesta densa obra, do testemunho
da experiência psicanalítica com o inconsciente, face
ao trágico rompimento da barragem de Brumadinho. Com
ele, não foram devastadas apenas paisagens e meio
ambiente, mas vidas, laços, amores, famílias, comunidades
inteiras.
Tema central deste livro, o luto, remanescente das perdas
irreparáveis e imemoriáveis desta travessia, exige o trabalho
dedicado de bordar a dor pela vida, desde onde resta
um fio, um traço, uma brecha de luz.
A psicanalista, com seu corpo, sustenta uma presença que,
além do consultório, se amplia na saúde pública e na ação
política de escrita da memória. Não há reparação para o
impagável. Mas há sempre a palavra que cria um caminho
possível na bruma. Este livro é um horizonte.
Andréa Máris Guerra