A brevidade do acesso da timeline vira um livro de poemas. Enquanto a Geração Y, resultado de avanços tecnológicos e domínios das virtualidades, não conseguiu alterar os sistemas, vivendo a exaustão ou uníssono que levanta a obra emboloração de Diogo Mendes, que busca o bolor através do estado ou êxtase do digital das pós-utopias, como se o verbo "embolora", indicador de acontecimentos, estivesse desde o título dessa coletânea em confronto e também vínculo com o substantivo "ação", que qualifica. É importante enfatizar que o autor decompôs algumas formas fixas da poesia, eclodiu facetas do caráter brasileiro, referenciou ícones queers, também por ser homossexual. Faz paralelo com o que acontece nessa linha do tempo que não foi de forma alguma pré-definida por uma sequência finita do algoritmo, ao registrar possibilidades desse fato, em uma era na qual quase tudo é compartilhado e midiático em um dos países que mais consome as redes sociais. O corpo deixa de ser físico nesse sentido e torna-se factível do mesmo modo que a realidade vai ganhando inúmeras versões.
Mesmo priorizando essas ambiguidades do tecnocentrismo, o processo de sua desconstrução, esta coletânea quer o interpretar dos sentimentos mais próximo ao anônimo, porque tenta catalisar os perfis que menos influenciam, até quando seja o oposto, ou ainda mentira, em hipótese na internet. No livro emboloração todas as palavras são minúsculas, acenando para um diminuir da individualidade em contrapartida dessa interação coletiva, o pontuar não existe, todo o território do poema se baseia nessa figura retórica que só afirma até os questionamentos, como a linguagem produzida da sociabilidade em rede (sem recorrer ao "internetês"), os neologismos seguem muito mais o lado intuitivo do que o linguístico, através do processo de investigação da barbárie e barbarismo, os versos são acometidos do refinado ao coloquial ou obsceno e a experiência da imagem ocorre em um artifício irônico no campo do idioma. O real e abstrato, indo do mais simples ao visceral, porque é justamente esse bolor, que não necessariamente embolora, o elemento-chave desses poemas.