Não tenho a pretensão da verdade, mas da sua busca indiscreta, porque, se fosse discreta, não se prestaria ao meu ofício de escritora. Também não questiono muito. Apesar da agudeza elucidativa que possa conter, eu não indago ao interlocutor, por mais abalizado que este seja. Indago no contexto de mim mesma e com o que tenho, de matéria à minha disposição, para ser usado. Naquilo que a matéria assimilada não responde, entro no assunto, de modo independente. Daí, apenas coloco este estranho parecer metafórico, uma espécie de depoimento insano, e daí nascem poemas, contos, crônicas, ensaios, humor, etc. Muitas vezes estas produções vêm com ares de verdade, pois sou sempre afirmativa. Não poderia ser diferente, porque acredito ser, o que escrevo, a verdade, embora até parcial que consegui estabelecer através dos sentidos e do conhecimento, e que me basta por um tempo. Acho que não tenho espírito de Diógenes com a lanterna procurando o homem (ser humano) e perguntando onde está. Minha verdade me serve, até que encontre melhor juízo, mas este melhor juízo não vou procurar, porque preciso da minha verdade para parâmetro de tudo que faço e isto urge. Não posso transformar meu ofício na meta-procura dele mesmo. Mas a meta salta aos meus olhos e é sobre o que mais escrevo. Não posso ficar à mercê de certa obsolescência da verdade ou de novas descobertas. Se vierem, que sejam orgânica e vegetativamente. Tenho que usar a que me serve até que se esgote. Ser prática. Somar com quem tem "números" para adicionar à contabilidade da cultura e da arte, no sentido positivo. Por isso somo com tudo que vejo, concordando ou não. Seria tola se quisesse dividir ou diminuir através de preconceitos. Se possível, multiplico. Moro numa esfinge e nem mesmo Deus me decifra. O contesto tanto que cortei pedaço de mim para mostrar-lhe a minha insatisfação contra desígnios ditatoriais da sua criação. Outros moram em pirâmides sólidas. Não devo prescindir dos exemplos dos meus confrades para os meus ajustes, uma espécie de uso sutil de apoio técnico terceirizado para o "knowhow" que me falta. Somos todos, os escritores, as naturezas distintas da arte que soem conviver em harmonia meio que reservada, e isto é promissor. Esta convivência advém do respeito humano que nos damos mutuamente, eu e os confrades. Mas jamais me filio a escolas literárias e a teorias absurdas que visam estratificar a arte e comandá-la pelo academicismo. Eu tive a lucidez de não agregar valor cultural junto aos movimentos que encontrei no passado distante. Andei pelo mundo e hoje o reencontro, na tez de antigos companheiros agora inflados deste academicismo. Fiquei, mais, no que pude colher de experiências universais. E não carrego bandeiras. Não assimilei o mesmo sentido da grande maioria. Cada um tem o seu caminho. Tenho muito que aprender e pouco para ensinar. Paradoxalmente, expondo minhas vivências, não diria que absolutamente estou ensinando. Mas, pelo menos, instigo. No momento, estou preparando meu almoço frugal e franciscano, às quatro e vinte e sete da manhã, na vida simples que levo. E sou feliz porque tenho algo em que acreditar na humanidade, ou sejam, a Literatura e confraternidade cósmica, mas nunca poética, e até além de Deus, com o qual me entendo do meu jeito. Porque a confraternidade seria a derrocada da arte que expresso; e a religiosidade também. Assim, escrevo de tudo um pouco e saem textos de bardos e loucos. Esta obra que ora apresento é uma parte do que assimilei do mundo e do que sou, mais ainda do que vejo que é o universo. Neste caso, é criação. Este livro é das verdades que andei catando, mas não acreditem. Tirem suas próprias conclusões, porque de poetas, leitores e loucos, todos temos um pouco. A autora.