Dificilmente o senso comum veria a série South Park como uma obra de arte. Se considerarmos a arte como uma realização de grande beleza, uma amostra de virtuosismo e sofisticação do autor, poucas coisas poderiam estar tão distantes quanto a animação criada por Trey Parker e Matt Stone em 1997, e em exibição ainda hoje. Por outro lado, ao considerar a obra de arte como uma provocação, como a materialização sensível daquilo que a razão não consegue expressar, então a série se torna parte integrante e sintoma indispensável para a compreensão da realidade que se constitui a partir da virada do século. Uma de suas características mais marcantes é a desconstrução das celebridades que a animação opera, talvez um tanto além do limiar da crueldade. Érico Fernando de Oliveira estudou esta característica em sua dissertação de Mestrado South Park: (des)construção iconoclastas das celebridades (PUC-SP), e seu estudo analisa como a série mira (e acerta) os ícones do Star System contemporâneo, desnudando tanto sua prolixidade quanto nossa aporia diante deste fenômeno. No prefácio, o professor e psicanalista Christian Dunker chama a atenção para o fato de que o herói contemporâneo torna-se um pós-herói e o livro faz “uma anatomia dos tipos de parasitagem que o humor pratica contra os tipos de crença que a formaram: autista, paranoide, sociopata e excêntrica”. A dissertação que deu origem ao livro recebeu menção honrosa na terceira edição do Prêmio COMPÓS de Teses e Dissertações Eduardo Peñuela (2013). André Campos de Carvalho.
Autor: Érico Fernando de Oliveira"