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Ela

Ela

Sinopse

Todo o escritor, em quaisquer gêneros, talvez excetuando-se os de livros técnicos, é um reino individual. A prosa, em geral, falando-se de ficção, segue alguns critérios, mas neste caso, o ideal de muitos escritores seria assumir posição de Demiurgo, figura fantástica que reina de verdade, porque segue os princípios elementares de, do nada, tirar o tudo e dar-se ares de Criador, através do seu desejo de fazer jus à tal de "imagem e semelhança" citada nos livros religiosos. Então está bem, mas os escritores ficcionistas, (poesia e prosa) o que conseguem é criar mundos ou situações que não existem materialmente, a não ser quando as descrevem e o fazem em cima ou por meio de coisas já criadas, como o papel, o editor de textos, etc. E precisam de uma história, que não se acredita ter saído do nada. Tudo sai de coisas preexistentes, ou da mente do "criador literário" Mas, nada de "do nada", fazer algo material, das asas da metáfora, mas que se solidifica no ato de escrever. Têm, para isso, de contar com o insumo da sua consciência, criatividade intelectual, construções mirabolantes, até mesmo possíveis de acontecer. Aí dentro desses conceitos, há um mundo a desvendar, podendo-se vislumbrar, os ficcionistas, apenas como emulações de Demiurgo, pois nunca partem do nada. No momento em que escreve, o ficcionista repassa as idiossincrasias do universo mental e isso talvez Freud tivesse explicado ou pensado em explicar. O escritor é aquilo que quiser, até passando por patologias e disso nem vou falar. Na poesia, não há nada disso. Trata-se de um modo de escrever ultra pessoal, sem esquecer que também há exceções, pois há o poeta construtivista, que pensa estar criando e na verdade está exercendo o cogito ergo sum, do mesmo modo criando fantasia generalizada, sendo até meio inconsciente do que está fazendo. Nesse caso, não pensa em emular o Grande Arquiteto do Universo, o Demiurgo ou seja lá quem for. No caso do escritor Fábio José Vieira, (O Pratinha), do qual já editei, contando este aqui, 20 livros, grande parte numa sequência de samba de uma nota só, pois é 90% cantando uma só musa e a ela dedicando todos os seus dons, parece não haver outra pretensão. Ele não quer ser Deus ou Demiurgo e exerce sua felicidade de escrever sendo assim. Já escrevi tanto sobre ele, criticamente falando, e penso que, do Pratinha escritor/poeta, eu entendo. Mas qual nada! Pratinha é um Mistério Reinante. Pratinha é, sempre, um menino apaixonado e fiel que canta à sua musa menina. Talvez muitos de nós vivemos esta situação de tentar construir e tirar do nada a nossa criação, de um universo ideal que vamos descobrindo, a fim de trazer à tona algo que não existe, em função da nossa própria realização se justificar. Mas, como já estamos criados e somos humanos, não fazemos nada a partir do nada, não somos criadores primordiais, mas, quem sabe (?) estamos no caminho evolutivo. Somente na Poesia, andamos nos assemelhando artificialmente ao lendário demiurgo e isso pode nos bastar. Então que nos baste. Um dia chegaremos lá. Porque demiurgos não envelhecem. Para eles, o tempo e o espaço não existem. O poeta e sua criação vivem num meio ficcional de imortalidade, não transitando por passado, presente ou futuro e sim por dentro de uma eternidade que não conseguimos entender, talvez porque vemos no poeta um viajante do espaço. Então, que sejamos demiurgos dos nossos próprios mundos ficcionais, já que do nada não podemos criar. E sabe-se lá por quantos mundos anda o Pratinha, com a musa ou sem ela, mas sempre com ela. Não é para tentar entender, mesmo. É para recrear com a ideia do infinito, não aquele que acrescenta "enquanto dure". Assim me parece que Pratinha encontrou a vida eterna e anda visível ou invisível no insondável do universo.