Subjacente à ênfase dada aos aspectos abstratos nos escritos políticos de Rousseau, nota-se o esboço de um plano de ação política. Então perguntamos: o que significa formar para a cidadania no contexto social descrito no Segundo discurso? Como o Emílio responde a isso? O tratamento desse problema da educação de Rousseau pressupõe um movimento analítico englobando três obras: o Segundo discurso, o Emílio e o Contrato social. O que, por sua vez, exige que se tenha, em mãos, um fio condutor a elas compatível. Esse fio condutor não poderia ser outro senão a problemática da liberdade, pois ela constitui-se o ponto de convergência do pensamento antropológico, político e educacional rousseauniano. Na análise da relação da liberdade e o homem, vimos que ela consiste no principal atributo do homem natural. Constitui-se em sua diferença específica e é, portanto, indispensável à sua existência. Ao abandonar o estado de natureza, essa liberdade é perdida, visto que as relações sociais estabelecidas, de forma inconsequente, tendem a suprimi-la. Sendo a condição de liberdade indispensável à sua existência, impõe-se, ao homem civil, a necessidade de resgatá-la, agora, em uma forma compatível com a vida social, ou seja, que se institua uma liberdade moral ou política. Posto que a liberdade, agora exigida, se trata de uma convenção, não se encontra, no homem, portanto, disposições naturais à sua efetivação. Então, é necessário construí-las, e essa tarefa cabe à educação.