Não devemos nos espantar diante de um caráter voluntariamente oral destas páginas; do movimento contínuo do pensamento que obriga o leitor a prestar uma constante atenção; e do seu ritmo, em que cada ponto e parágrafo marcam uma pausa para o leitor poder refletir e organizar uma reação esperada. É por esta dialética da continuidade (no fluxo da fala) e da descontinuidade (nas pausas da reflexão) que se pode educar para responder aos desafios de uma sociedade em trânsito.
Porém, a oralidade de Paulo Freire não expressa só o seu estilo pedagógico. Revela, sobretudo, o fundamento de toda a sua práxis: a certeza de que o homem foi criado para se comunicar com os outros.
Em Educação como prática da liberdade, o cristão militante que é Paulo Freire se permite falar em liberdade, em democracia e em justiça porque crê nestas palavras e no seu poder libertador, à medida que encarnam sua fé inteira. A palavra, acredita, pode deixar de ser o veículo das ideologias alienantes e de uma cultura ociosa para tornar-se geradora, isto é, instrumento de uma transformação global do homem e da sociedade. Para tanto, propõe um diálogo – sempre a partir da reflexão social – que não deixa ninguém à margem da vida nacional. Educação e política se fundem.
Neste livro, Paulo é, como poucos, porta-voz daqueles que precisam elaborar criticamente a própria conscientização. É o promotor da integração responsável e ativa numa democracia a fazer, num projeto coletivo e nacional de desenvolvimento. Para isso, nos oferece toda a sua experiência como homem e educador. Cada vez mais, Paulo Freire é um nome que precisamos recordar e seguir.