A grave crise financeira que, na última década, atingiu Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda, entre outras nações usuárias do euro, evidenciou a sua incapacidade para resolver soberanamente os seus problemas e a sua subordinação à Alemanha, da qual receberam comandos explícitos. Como isso pôde acontecer se, conforme se afirma, o euro é a "moeda comum" da União Europeia?
Para elucidar essa pergunta, investigamos as origens, propriedades e possibilidades do dinheiro e fatos críticos da história alemã como a hiperinflação dos anos 1920, a fundação da República Federal, a instituição do Deutsche Mark – o marco alemão – e do Bundesbank, seu poderoso banco central. Com o avanço da integração europeia e o declínio relativo do dólar nos anos 1970, o marco tornou-se referência na Europa, a subordinando ao que os franceses denunciaram como uma "tirania".
Já nos anos 1990, o marco serviu como instrumento de conquista da Alemanha Oriental. No Tratado de Maastricht, ao adotar o "paradigma monetário" alemão, os europeus criaram o euro, moeda "comum" que, na prática, é alemã. Por seu intermédio, a Alemanha afinal se tornou o "poder hegemônico" na Europa, posição que fracassou em conquistar em duas guerras mundiais. Tal fato evidencia que o dinheiro nada tem de "neutro". Ao contrário, é objeto decisivamente político que oculta a violência que o institui e garante e que se mostra mais eficaz para estabelecer relações de dominação, até mesmo entre nações, do que o próprio emprego da força.