Dividindo as províncias do Império apresenta um argumento original: o de que a tomada de decisões no Brasil Império era caracterizada pelo efetivo funcionamento de um sistema político de tipo representativo. A partir da análise dos processos decisórios desencadeados pela apresentação de projetos que previam a criação de novas províncias (Paraná, Amazonas, Sapucaí, São Francisco, Oyapockia), o autor defende que, mais do que a vontade do imperador ou dos ministros por ele nomeados, o que definia a questão era a ocorrência de debates e votações entre deputados cujas lealdades encontravam-se divididas. Em um momento no qual a identidade nacional encontrava-se em pleno processo de construção, quais interesses defender? Os da província de origem, cujos cidadãos os elegera para representá-los, ou os de uma nação ainda imprecisa e indefinida? A necessidade de incrementar a economia regional deveria motivar a criação de novas províncias ou deveria servir como argumento para impedi-la? E o sucesso econômico? Era motivo para emancipação de uma comarca (como Curitiba) ou argumento em favor do sucesso paulista a recomendar, portanto, a manutenção de sua integridade territorial? Finalmente, quando o partido que se mostrara capaz de formar unanimidade na Câmara dos Deputados se declarava favorável a um projeto, como deveriam agir seus membros? Seguir a recomendação de seus maiores ou se manter fiel a seus princípios e valores? Eis algumas questões que jogam luz sobre a complexidade inerente à prática política durante o processo de construção de um país que, desde suas origens, mostrou-se comprometido com um regime liberal democrático, ao mesmo tempo em que adotava um sistema monárquico constitucional. A leitura dessas páginas oferece oportunidade valiosa para reflexão sobre o Brasil, colocado frente à necessidade de tomar decisões que impactarão poderosamente seu futuro e definirão a viabilidade de sua própria democracia.