Afinal, o que é intervenção militar "constitucional" no contexto das ideologias da intervenção?
É disso que trata Ditadura residual, livro que procura responder, de maneira concisa e contextualizada, a proposta que está nas manifestações públicas mais recentes e que está no discurso oficial do governo.
O protagonismo das Forças Armadas na política brasileira não é inédito na História do Brasil. Ela é tão incrustada de intervenções militares que faria mais sentido considerar os militares como atores políticos.
Jair Messias Bolsonaro — o terceiro presidente da República egresso das carreiras militares a ocupar a chefia de Estado e de Governo — representa essa díade entre a (re)militarização da política e a politização não somente do Exército, mas das Forças Armadas, das Forças Armadas Auxiliares e da Reserva do Exército, as Polícias Militares Estaduais, sempre presentes nas manifestações públicas de apoio ao chefe do Executivo.
É preciso reconhecer que as Forças Armadas e as Forças Armadas Auxiliares e a Reserva do Exército politizaram-se, sobretudo, ao longo da década de 2010, no bojo das manifestações públicas. Além disso, a intermitência de parcela da sociedade civil em bater às portas da caserna, conclamando para que realizem uma "nova" intervenção militar "constitucional" obteve inédito êxito em relação às outras, sem ruptura institucional formal.
Essa é a razão pela qual se revisita as ideologias da intervenção para se compreender que as relações entre as Forças Armadas e a política nacional atual apenas se reconfiguraram. Caso contrário, a História do Brasil continuará a ser pontilhada por intervenções militares ou de cunho reformista, ou por uma fase de não intervenção, ou por uma fase de intervenção moderadora, enquanto insistirmos em querer apartar os militares da participação política nacional.