Este livro contém uma análise das formas como as cadeias de mediação que problematizam temáticas agroecológicas incidem sobre as práticas produtivas de agricultores familiares que estão se integrando aos mercados em áreas de ocupação mais antiga (entre cerca de 20 a 30 anos) na fronteira agrária do Sudeste paraense. Visando dar elementos de resposta a esse questionamento, como grade de leitura analítica das situações concretas, optou-se por utilizar a corrente da sociologia da tradução, que busca identificar as questões ambientais em um contexto maior que as situam no âmbito de um continuum sociedade-natureza. Para isso, esse conjunto teórico se utiliza da análise de redes sociotécnicas, que envolvem em suas tramas as relações entre humanos e objetos e que se expandem por meio de complexos procedimentos sociais de "tradução" entre diferentes atores sociais. Os principais percursos de pesquisa envolveram a observação participante, visando "seguir os atores" que fazem parte da rede sociotécnica que discute a agroecologia no Sudeste do Pará, descrevendo-a desde as arenas de embates e discussões, passando por espaços acadêmicos e institucionais, até chegar aos agricultores familiares em seus estabelecimentos, por meio da descrição do caso de um assentamento da região. Os resultados da pesquisa demonstraram que os agricultores familiares que estão envolvidos com a rede sociotécnica que pode ser denominada de agroecológica estão diversificando sua produção agrícola, porém sem necessariamente recusar aspectos específicos da rede de modernização da agricultura, como o uso de agrotóxicos, por exemplo. Isso demonstra que essa última rede se apresenta mais longa e ampliada em suas conexões e interfaces e com maior facilidade de expansão entre os agricultores da região, que estão indo em direção a um uso mais intensivo de insumos externos às propriedades rurais. A cadeia de mediação da agroecologia incide em alguns desses espaços, mas ainda se apresenta de modo incipiente na constituição de um processo de interessamento e engajamento dos agricultores em torno de práticas produtivas pensadas a partir de princípios agroecológicos.