Um singular acaso iluminou a confusão de papéis que iam crescendo no fundo da gaveta e, nesse dia, aconteceu revelação. Havia ali algum sentido, indícios de filão, de mensagem subliminar à espera de ser descodificada. O aliciante de tal empreendimento depressa esbarrou com a dimensão do desafio a superar. Juntar, em íntimo convívio, géneros literários diferentes não seria tarefa fácil. Venceu a constatação de que um primeiro livro também pode ser o último. Venceu o instinto, a vontade de não deixar no subsolo algo que, eventualmente, poderia ser útil à comunidade. Venceu a perspetiva de conteúdo, aliada e não refém da procura da forma. Discurso Direto não nasceu normalmente, como qualquer livro que se preze. Durante anos, balançou entre a esperança de nascer e a ameaça de abortar. Paulatinamente, foram sendo superadas as dificuldades inerentes a uma tardia estreia literária. Acabou por vir à tona o eventual interesse, para os potenciais leitores, do testemunho vivencial de uma ínfima parte, consciente da sua mesclagem ao Todo Universal. Foi essa conjuntura que incentivou a publicação dum livro, onde voam diálogos e narrativas, que, planando livremente, poderão levar-nos a outras terras e outras gentes.