As questões e, principalmente, as proposições do trabalho de Bibiane Oliveira Silva Goes são de interesse das pessoas que atuam no campo da Sociologia e das ações afirmativas nos mais diversos níveis de ensino: nível médio, graduação e pós-graduação.
Explico-me: seu empreendimento intelectual — que perscrutou análise documental, pesquisa bibliográfica, documentação direta e rodas de conversa com estudantes e profissionais de uma unidade de ensino no interior da Bahia sobre como os livros didáticos e aulas assumem uma agenda de discussões sobre a negritude na Sociologia — é de uma sensibilidade e de um compromisso singulares para a valorização e reconhecimento dos negros no Brasil em todas as dimensões; além, claro, de desconstrução e reversão do racismo institucional.
Nesse desiderato, realiza uma contribuição crítica e contextualizadora das relações raciais, complexificando lugares comuns. Há ainda uma forte representação de que os estudantes não "querem nada" na educação brasileira. Ao menos no caso em tela, os leitores e leitoras irão se deparar com turmas com interesse, com propostas, com lucidez quanto ao racismo, o quanto ele ainda é vigente, forte e grave nas relações sociais dentro e fora da escola. Ao inserir e insistir muito apropriadamente sobre o direito de ouvir e falar de si de estudantes negros nos espaços educacionais, a par das educadoras, a autora já exemplifica o quão frutífera pode ser essa senda. Para todos.
O trabalho de Bibiane instiga uma profunda revisão dos livros didáticos e das culturas escolares, ao tempo em que, acompanhada de referências teórico-metodológicas de proa como Nilma Lino Gomes, Kabengele Munanga, Guerreiro Ramos, Abdias Nascimento entre outras e outros, impõe e propõe a urgente integração e autocrítica do que é desenvolvido na graduação e na pós-graduação em Sociologia. Registre-se também que estamos mais habituados a análises sobre aplicação da Lei 10.639/2003 no campo das linguagens ou da História.
Avançamos nessa agenda, sem dúvida, mas os desafios ainda são imensos. Contudo, o engajamento, a dedicação e compromisso de obras como essa nos exortam a seguir adiante, com perseverança, esperança e, particularmente, realismo para superarmos o apartheid à brasileira.
Nilton de Almeida Araújo
Juazeiro, 31 de janeiro de 2021.