Toda inovação nasce como espanto, mas se transforma em dilema quando desafia o que chamamos de essência. Com o tempo, o fogo, a roda e a sela do cavalo deixaram de ser espanto e tornaram-se parte da rotina. Inovações que transformaram o destino da humanidade passam a ser invisíveis quando o hábito se instala. A diferença, dependente da percepção do cidadão, dissolve-se na familiaridade. Ainda assim, algumas sociedades resistem às mudanças por temerem que elas ameacem aquilo que consideram sua essência. O mártir de uns é o vilão de outros, e, em qualquer direção que se olhe, multiplicam-se narrativas opostas. Os dilemas sempre se apresentam em pares antagônicos. O embate entre natural e artificial pertence à filosofia; entre bem e mal, à ética; entre original e cópia, ao domínio da estética. E hoje, quais binômios nos desafiam? Privacidade ou segurança digital? Automação ou empregos? Sustentabilidade ou crescimento econômico? Liberdade de expressão ou combate à desinformação? Desigualdade ou meritocracia? Globalização ou identidade cultural? Consumo ou minimalismo? Inteligência artificial ou criatividade humana? Biotecnologia ou ética médica? Justiça social ou liberdade econômica? Tradição ou inovação? Trabalho ou lazer?