Diferenças iguais é um volume de contos elaborados entre 2003 e 2015. Dez contos que possuem em comum a ancoragem na infância e na adolescência, entremeados por alguns, poucos, em que a preocupação se volta para a experiência amorosa frustrada. Textos em que a memória tem prioridade sobre a imaginação, mesmo que esta desponte nos contos mais longos, como "Os passos da suspeita" e "Nas sombras do rio". Momentos do passado pessoal, como a dor em "O momento inadiável", episódios ouvidos de alunos durante incursões pelo mundo da recente juventude interiorana, se não presenciados, como em "Diferenças iguais", ou acompanhados por anos enquanto o objeto amadurecia, conforme narrado em "O retorno". Os textos deixam evidente um universo recorrente, o interior paranaense de épocas passadas ou dos dias atuais. Existe uma única exceção, o conto urbano "Ponta de estoque", relato de frustração sem esperança. Esse universo em que o rural já se mesclou ao urbano de forma irrecorrível, como se observa em "Vergonha", mas que deixa perceber, no entanto, a força quase irrevogável dessa cultura em que a criança ainda dedica seu tempo ao trabalho nas roças, como se vê no fastio do personagem de "Dia sem aula". O local das infâncias míticas, que motivam os saudosismos de uma era mais espontânea, aparece aqui como possibilidade da falta de conforto, de afeto, de expectativas, como em "Se essa gente soubesse". Infância e adolescência interessam, sobretudo, por representar a mudança, essência estrutural da narrativa. A mudança pode significar o estranhamento diante do que era rotineiro, uma nova condição a ser recusada ou encarada ainda sem o suporte da experiência. A adolescência, com seus rituais de afirmação e de ambígua negação, aparece em contos onde mudar é uma necessidade que assusta, como em "A outra pessoa". A vida adulta remete à angustiante experiência da falta de amor ou de um ente para se amar.