Escrito ao longo de trinta anos, de 1985 a 2014, o Diário nos mostra a construção de um percurso espiritual. Esse percurso tem como ponto de partida a escuta da vida exatamente onde ela nasce e visa à realização de algo que poderíamos definir como sentido da vida. O meio de atingir esse objetivo é a oração, concebida como um diálogo. Quem quer fazer oração deve preparar-se para uma das maiores ausências (aparente ou percebida como ausência) de Deus. Grande ausência porque, inicialmente, imaginamos que vamos obter dele, pelo menos, um sentimento de presença. Ele pode dar esse sentimento, às vezes dá, mas não é esse o objetivo da oração. A única certeza de que rezamos bem é quando temos fé que Deus está ali e age e quando queremos nos oferecer à sua ação.
Crer e querer são as duas armas do orante, seus dois presentes a Deus, seus dois únicos contatos com ele. Vamos à oração para sermos conduzidos por caminhos indiscerníveis, para sermos moldados em profundidade onde o sentir não tem importância. A boa oração é ficar firme no vazio. A vontade-amor é essa força de amor, muito estável e tranquila, com a qual aderimos de forma mais ou menos clara a alguma coisa que Deus nos propõe. Quando o homem olha para dentro de si, a fim de analisar sua experiência religiosa, tem a sensação de um abismo sem fundo, uma profundeza infinita. Essa profundeza inatingível de nosso ser se refere à
palavra (inatingível) de «Deus». Deus significa isto, a profundeza última da nossa vida, à frente do nosso ser, a meta de todos os nossos esforços.
Capa: foto de Santina Francisca de Nóbrega em 1957, com 20 anos de idade, foto de Irmã Domícia de Nóbrega em 2011, com 74 anos de idade.