Em Diário de um artigo inacabado, um personagem insólito, um artigo acadêmico, ganha vida para narrar os percalços sociais, psicológicos, econômicos, políticos e, principalmente, antropológicos do seu trágico destino como um texto sedento de glória literária no contexto da universidade brasileira contemporânea.
Nesse romance sobre a vida acadêmica na periferia do Ocidente, Robson Cruz ficcionaliza verdades que só poderiam ser ditas por um personagem inventado, que lida diariamente com as fissuras entre suas grandes expectativas de tornar-se um artigo clássico e a realidade da escrita fragilizada de seu autor.
As contradições do elitismo sempre à espreita nas ciências humanas e sociais, os desejos de profundidade intelectual interditados pela ideologia do gênio romântico, os conflitos de classe abafados pela suposta democratização do ensino superior e a falsa pose de desinteresse de sujeitos tão afeitos ao sucesso figuram uma narrativa satírica dos traumas que perpassam toda vida acadêmica autenticamente desejosa de escrita.
Assim, a sensação — do começo ao fim da leitura deste livro — é a de que a vida daquele artigo inacabado é a vida de todos nós que fantasiamos, um dia, ser a universidade um espaço de pura leveza e liberdade criativa.