Brasília tem em si a essência dos mistérios esotéricos, históricos e a singularidade da sua concepção como cidade planejada no meio do nada. Esse nada é uma divisa muito rica para a literatura e a colocação da capital do Brasil como cenário de acontecimentos muito curiosos. Seguindo o grande contemporâneo João Almino, precursor da inserção da capital no mapa da grande ficção, mas nesse caso partindo para um lado um pouco diferente entre J.J Veiga, Ondjaki e Cortázar, talvez e por tradição. A cidade abrigando aqui a maioria dos contos em tempo não linear, dos acontecimentos mais corriqueiros mediante o hábito com o descontrole nas metrópoles, seja no drama de um vendedor ambulante violentado física e moralmente no Dia do Trabalhador em um recorte do cinismo e da hipocrisia do poder público, passando ainda por um casal que se conhece numa estação de metrô e vive uma paixão arrebatadora num carnaval deslocado, e entre outras estórias o caso de dois policiais voltando de uma ocorrência a observar a desgraça do crack nas ruas e encontrando no centro do CONIC, o sobrenatural numa noite vítima aleatória do absurdo.