A autora que vos fala nasceu em uma família cuja origem tanto paterna quanto materna são de imigrantes italianos. Sou bisneta de italianos natos, da cidade de Nápoles, uma das principais cidades ao Sul da Itália. Fundada no século VIII a.C. Minha família não tem nenhum registro da chegada de meus ancestrais ao Brasil, tudo o que sabemos a respeito de nossa linhagem é o que ouvimos de minha avó materna, uma pequenina senhorinha que apesar de sua frágil estatura física, após a morte de meu avô que partiu acometido por uma doença chamada tifo, a deixou com duas meninas e cinco meninos, todos menores, além do caçula que era uma criança especial, minha avozinha se mostrou bravamente corajosa na criação dos oito filhos. Ela se trajava como uma perfeita camponesa italiana, apesar de ter nascido no Brasil e jamais ter conhecido a Itália, acredito que tenha carregado os hábitos de seus pais que após sua chegada, assim como a maioria dos imigrantes italianos, conservaram suas tradições e os mesmos hábitos de sua terra natal. Diante de todas as histórias que a ouvia contardurante toda a minha infância, histórias de vários romances, os quais muitos dos casais que se conheceram nas colônias, terminaram por fazer suas juras de amor eterno ajoelhados diante do altar nas pequenas capelas das fazendas,todo esse romantismo italiano fez nascer em mim um carinho especial pela Itália e por sua gente festeira, gente que cativou o nosso país com seu aspecto sadio e aberto de falar alto com gesticulações e e generosas declarações de amizade. Trouxeram-nos suas maravilhas gastronômicas criando em nós o hábito de apreciar uma bela pasta aos domingos. Uma casa italiana é sempre aconchegante e acolhedora, com sua mesa sempre farta, jamais uma visita se retira antes que se sinta saciado com tantas delícias oferecidas. Não posso afirmar que todas as famílias italianas compartilhem desse gentil acolhimento, mas, as casas conhecidas por mim me davam a impressão de eu estar em minha própria casa. Na de minha avó, jamais se preparou uma refeição apenas para a família, sempre havia uma grande quantidade de comida porque fatalmente chegaria mais alguém para compartilhar de sua mesa. São momentos que eu jamais vou me esquecer. Em muitos almoços com minha avó e meus tios maternos, os quais eu sempre estava presente, nos juntávamos a tantos outros parentes e também vários agregados que gostavam de falar todos ao mesmo tempo, como a maioria dos italianos falam em tom elevado, era dificil entender alguma coisa naquele burburinho, quem estivesse de fora até podria imaginar que se tratava de uma bela discussão em família. Nem sempre nossa mesa estava diversificada de pratos, mas, aquelas pessoas amigas e parentes que aos poucos iam se achegando, transformavam um simples almoço de domingo em uma verdadeira festa. Ali se falava de tudo, fofocava-se muito, se ria e por fim se cantava fraguimentos errados de músicas italianas. Infelizmente chega o dia em que tudo se acaba, Deus nos leva as pessoas mais queridas, as quais nos deixam marcas profundas e uma eterna saudade. Hoje, esses almoços já não acontecem mais, não existe mais a casa da vó, apenas em nossa lembrança revivemos todo aquele barulho, risos, cantoria, aquele cheirinho de comida boa que vinha da cozinha, muitos pratos se transando sobre a mesa quando alguém dizia em voz bem alta, vamos comer. Depois de tudo nós tínhamos vontade de chorar ao ver no que havia se transformado a cozinha da casa da vó, a pia parecida de restaurante em dia de caos, mas todos se juntavam para deixa-la como nova, um brinco, como dizia a avozinha. As tradições se perderam no decorrer do tempo e as pessoas, devido ao ritmo de vida urbana, acabaram por se afastarem.