Um poderoso engodo tem logrado entranhar-se profundamente na cultura contemporânea. Em seu nome templos são construídos, doutrinas desfraldadas, rituais executados e catecismos elaborados. Sua liturgia a todos engloba; é visto como privilégio e bênção. Ele, e não outro, é o caminho, segundo seu próprio evangelho, da verdade e da vida, pelo menos para este mundo. Educação, eis o seu nome! Equivocadamente, aquilo que chamamos de educação costuma reduzir-se às práticas de ensino, aprendizagem e vivências escolares, moldadas pelas necessidades de acumulação do capital, de sua sustentação e de sua reprodutibilidade. Transpassar a concepção da educação como uma forma do capital dar cabo de todos os desejos das pessoas e apontar para a colonização desse desejo pelo mapeamento estratégico do mercado é uma das necessidades apontadas por esta obra, propondo que saiamos da domesticação conceitual e comportamental, donde o conceito de deseducar, e partamos rumo ao exame dos limites e poderes da educação. Porque a educação, da forma como a conhecemos e a praticamos, frente aos objetivos desejados (entre tantos e tão vagos, o célebre transformar o mundo num lugar justo e economicamente mais equânime), é um processo admitido como bem-intencionado, insuspeito mas mentiroso quanto aos seus fins? Por que ela não pode dar conta dessa tarefa e, mais importante, porque acreditamos tanto que ela é capaz de mudar o mundo? Por que, em suma, é conveniente valorizar e pensar a educação, sobretudo ela, como meio de transformação da sociedade? A resposta a estas perguntas não estão dadas e prontas e cabe a todos nós, especialmente aqueles que vivem da faina da educação, pensarmos o que pensamos que é a educação e qual seu lugar e sentido no mundo. A esse chamado e convite não apenas professores são convidados mas todos aqueles que se importam e se relacionam de alguma forma com a educação.