Considerando que há na cidade do Rio de Janeiro um confronto histórico entre grupos e classes sociais, nominado no texto como uma "guerra à beira-mar", é proposta uma reflexão sobre o sentido desse conflito e uma investigação de como se dá a sua materialização numa "guerra a Beira-Mar" - a execração midiática do traficante Fernandinho Beira-Mar.
Para isso, opera-se uma análise da subjetividade ocidental, compreendendo-se que as classes médias cariocas podem ser incluídas nesse padrão identitário gerenciado prioritariamente pelos meios de comunicação. São propostas algumas noções de modalidades subjetivas dessa forma de civilização e sugerido um modelo que representa um suposto espaço de formação de discursos e identidades: a "sala de espelhos".
Conclui-se que, apesar da "guerra a Beira-Mar" poder ser inserida no contexto da "guerra à beira-mar", apresenta uma nova configuração, remetida a uma estratégia de "para vento" em relação a outro confronto que vem se formalizando na contemporaneidade: o das elites econômicas – cujas práticas parecem lembrar em muito aquilo que é condenado em "bandidos", como o traficante citado, e que se caracterizam por uma organização bastante consistente – contra as chamadas "classes médias", que assumem um novo papel na configuração socioeconômica e cultural contemporânea. Nesse contexto, o tratamento midiático de Fernandinho Beira-Mar está referido como uma encenação trágica do posicionamento das classes médias na contemporaneidade.