Este trabalho tem por objetivo analisar a produção psicanalítica acerca dos atravessamentos do racismo aos negros no Brasil no período entre 1980 e 2020. A metodologia utilizada é a pesquisa bibliográfica e a pesquisa em psicanálise, utilizando os descritores "racismo" e "psicanálise" junto aos principais repositórios de produção científica no país. Nesse contexto, observamos que o racismo no país tem marcadores diferentes daqueles identificados em outros países que também receberam o povo retirado do continente africano para serem escravizados, pois no Brasil, passados os 338 anos de escravidão legal, não tivemos leis explicitamente segregadoras. Por outro lado, existiram, e existem até hoje, várias leis, condutas sociais e diversas manifestações ainda apoiadas no racismo que estrutura nossa sociedade e nossas relações, nas quais operam a denegação e diversas formas de silenciamentos imaginários, simbólicos e reais, que têm uma função importante na estruturação do racismo à brasileira. A psicanálise, ao chegar nesse território, também se encontra atravessada por essas questões que são anteriores à sua existência. Sobre os psicanalistas pretos e sobre a produção psicanalítica acerca do racismo também se produziu denegação e silenciamentos. Observa-se também que a maioria dos trabalhos se concentra nos últimos anos do recorte temporal da pesquisa, fruto dos movimentos decoloniais e da luta antirracista dentro e fora do meio psicanalítico que, aludindo à icônica imagem da escravizada Anastácia, tem produzido um contínuo crescente de desamordaçamento.