Democracia e socialismo: a experiência chilena é um "clássico" dos estudos feitos no Brasil sobre o período de governo de Salvador Allende no Chile (1970-1973). Trata-se de um tema cosmopolita e de visita obrigatória por aqueles que se interessam pela história política da América Latina.
Sua atualidade não está na expectativa de se retomar os pressupostos do projeto de construção do socialismo por meio da democracia, mas na compreensão dos dilemas políticos que, hoje, vivenciamos.
O livro mostra que a Unidade Popular (UP) carregava uma visão instrumental da democracia típica de uma cultura política convencional que marcava os comunistas e socialistas daquela época. Por ter sido assim, as ações da UP terminaram por pressionar a ordem democrática que havia permitido sua ascensão ao poder.
Assim, como se afirma no livro, [...] sem conseguir traduzir o seu projeto numa grande criação em que o novo nascesse, de fato, da particularidade chilena [...], e sem formular uma nova noção de tempo político na construção do socialismo, a via chilena apenas conseguiu anunciar-se como uma via democrática.
A chamada experiência chilena deve ser vista como um ponto de inflexão que aponta para a necessidade de superação da cultura política da revolução, sem a qual não haverá possibilidade de redirecionamento das políticas da esquerda para o enfrentamento dos problemas e impasses da democracia, entendida como a projeção civilizacional do nosso tempo capaz de garantir transformações históricas sem a perda das liberdades e das individualidades.
O fracasso da experiência chilena demonstra que o tempo da revolução é incompatível com o tempo da política. Enquanto o primeiro é marcado pela urgência da tomada do poder, o segundo reconhece que as transformações históricas devem ocorrer a partir de consensos pactuados politicamente no interior de uma moldura democrática.