Delico deixa sua cidade natal, Raul Soares, em Minas Gerais, e chega ao Rio de Janeiro com o sonho de se tornar jogador de futebol e poder atuar no Maracanã um dia. Contudo, na primeira noite no Rio, foi vitimado por um acidente de carro ao salvar um recém-nascido. Em vista disso, por sequela, se tornou deficiente da perna esquerda, o que praticamente impossibilitava a concretização do seu propósito de se tornar atleta. No período em que esteve hospitalizado, conheceu Ana Florência e, daí, ocorreu mútua paixão.
Um sonho incomum, com traços de desdobramento, em que assiste a um estilo de futebol com características diferentes daquilo que ele conhecia; abre, para Delico, perspectivas de esperança. Ana Florência o auxilia na reconstituição e na elucidação desse sonho e, assim, após árdua fase de treinamento, ele consegue executar um gol praticamente utópico: aquele que percorre a trajetória de cento e oitenta graus. Além desta proeza, o jogador se sentiu possuído por um intenso sentimento que ultrapassava os limites de uma partida de futebol e almejou, a partir disso, contribuir para a desejada pacificação mundial.
Devido à sua condição física, não se pode afirmar que Delico é um craque, entretanto, ainda que seu time estivesse perdendo de 10x0, Delico precisaria apenas de sete minutos para empatar o jogo. Apenas isto: empatar! A ideia da não vitória sobre o outro é vista, na prática do frescobol e no interessante trabalho de Claude Lévi-Strauss, como "o mito do empate e o pacifismo".