Um prédio de escritórios em Paris. Homens negros, imigrantes de diversos países africanos, sobem escadas e mais escadas em busca de vagas de emprego. Lá no alto, preenchem formulários e pegam seus uniformes: daquele momento em diante, e por tempo indeterminado, trabalharão como seguranças. Essa é a imagem que introduz o leitor no universo dos "de pé, tá pago", trabalhadores que recebem seu salário depois de passar o dia inteiro de pé.
A narrativa parte do ponto de vista de um segurança, que por meio de comentários sem filtros, retrata a clientela embriagada pelo consumo. O autor evoca ideias pseudocientíficas do século XIX em uma espécie de revanche literária recheada de humor cortante, às vezes até descomedido. Não há ressentimento, mas um olhar incisivo para as características sociais, psicológicas e idiossincráticas dos variados clientes.
A esses verbetes sulfurosos Gauz intercala uma narrativa intergeracional sobre a imigração da Costa do Marfim para a França, dos anos 1960 até o Onze de Setembro de 2001. A saga de Kassoum e Ossiri pela Paris dos anos 1990 se mostra como um prolongamento das experiências de seus amigos e familiares, com importantes atualizações: à medida que novas leis sobre imigração entram em vigor na Europa, muda o estatuto e aumentam as mazelas dos indocumentados.