Resultados de pesquisas individuais ligadas ao projeto "Poesia e transdisciplinaridade: a vocoperformance", desenvolvido desde 2016 no Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) por discentes de graduação e pós-graduação, os textos reunidos neste livro versam à procura do grão da voz de quem escreve e de quem vocaliza a palavra poética. A aliança entre Música e Poesia remonta à origem da linguagem, ou seja, quando o canto estava indissociável da poesia: dos aedos gregos à lírica trovadoresca; dos encantamentos indígenas aos orikis nagô-ioruba.
O fato é que mesmo no império grafocêntrico, com a tipografia e o prestígio da palavra escrita, o verbo poético não renuncia a voz (ritmo, timbre, dicção) humana. Poetas e críticos vêm tentando perceber essa relação. E, se, por princípio, todo poema escrito pode ser cantado, a musicalização precisa atender às estruturas específicas ao acabamento da canção. Os procedimentos são outros. Por exemplo, caberá ao melodista buscar a entoação embrionária dos versos para, entendendo o ser e o tempo poético, criar a canção, verter a palavra escrita em palavra cantada.
Urge, assim, investigar as parcerias éticas e estéticas entre a poesia e a canção popular contemporânea. Se, como defende Paul Zumthor, "a leitura do texto poético é escuta de uma voz. O leitor, nessa e por essa escuta, refaz em corpo e espírito o percurso traçado pela voz do poeta: do silêncio anterior até o objeto que lhe é dado, aqui, sobre a página", os textos aqui reunidos estão (e convidam) à escuta.