Neste estudo, que eleva o diálogo entre literatura e quadrinhos, grandes nomes são enlaçados para despontar um universo de possibilidades: João Guimarães Rosa (1908-1967) e Will Eisner (1917-2005) são alguns deles. O desafio de elaborar um trabalho com um autor já tão bem estudado em nossa literatura não superou o entusiasmo de reconhecer e expor os pontos de contato e de impacto que a riqueza do texto literário poderia produzir em uma versão verbovisualizada, portanto, híbrida e, por isso mesmo, exigindo o letramento em outra linguagem, vindo a enriquecer, assim, a caminhada e a fortuna crítica, quer seja literária, quer seja quadrinística. A principal questão que se põe é quão bem pode um sistema de linguagem eminentemente visual, como são os quadrinhos, distinto de outro, exclusivamente linguístico, como é o literário, transpor os referenciais desse para aquele sem comprometer a qualidade do texto e as possibilidades de leitura. A ponte teórica que viabilizou o encontro de tais semioses foi tomada do pensador russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975). Considerado filósofo e pensador das artes e cultura europeia, Bakhtin dedicou-se principalmente aos estudos da linguagem, em especial da estética literária. Suas considerações sobre palavra, enunciado, dialogismo e ideologia contribuíram para a percepção e construção desse livro, assim como continuam a contribuir para expansões de sentidos em qualquer diálogo.