"Casa Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, recebeu 52 edições em língua portuguesa até 2023, sendo que o autor estava vivo em 25 delas. Se pensarmos as edições em língua estrangeira, os números são ainda mais assombrosos. Imagina-se, no entanto, por se tratar de uma obra historiográfica, que os seus dados tenham sido atualizados, que o próprio Freyre tenha revisado seus argumentos, que após tantas críticas, e após tantos anos, muitas delas tenham sido inclusive incorporadas. Não foi bem assim. A presente obra nos mostra que as alterações no texto original de CG&S foram mínimos. As muitas modificações, acréscimos e debates foram feitos ao pé da página, nos prefácios, nas margens da obra em si. Mas por quê? Pensaria seu autor se tratar de uma obra da grandeza de uma "arte imutável"? As possíveis respostas se encontram ao longo das páginas que se seguem. Os estudos dos prefácios e notas de rodapé de "Casa Grande & Senzala", de Gilberto Freyre, realizados por Vanessa Carnielo, são uma daquelas pesquisas que alguns chamariam de "meta-históricas", pois, assim como seu objeto de pesquisa, não trata nem da história em si (enquanto passado presente), nem tampouco do conteúdo histórico da obra de Freyre. Ao estudar suas margens, a autora demonstra que a história da historiografia ainda é um campo a ser desbravado e que o debate por trás do conteúdo, não raramente, pode ser tão interessante, rico e necessário quanto o conteúdo em si.