O gosto de um bom alimento depende de seu tempero e de seu preparo, das temperaturas adequadas e, principalmente, do estado de espírito do mestre-cuca. O aroma e o sabor vivificam a alma e o corpo que consomem as iguarias; as essências finas oferecem o despertar dos sentidos ao prazer de degustar um alimento saudável, além de oferecerem energia suficiente para a lida diária. Substâncias incorporadas ao calor do fogo devem ser especiais, como uma osmose primordial de transubstanciação.
Todo processo de mistura é detalhadamente escolhido em um transe de satisfação pessoal entre o sal e o açúcar, usado conforme o prato inebria os sentidos e sacia o corpo.
Assim como o alimento, um bom livro depende de toda a alquimia das palavras que, associadas, encantam a alma e o espírito, levando o leitor a uma visão abrangente e crítica e instigando-o a não absorver qualquer essência que venha a confundir sua formação como ente e como ser. Esta duplicidade entre corpo e espírito precisa do equilíbrio salutar para ter vida em plenitude. Temos grandes escritores em nossa cultura que alimentam nossos devaneios com o conhecimento e entretenimento de bons livros, então é como estar em uma mesa repleta de manjares salutares. Essas circunstâncias se interpenetram na formação do indivíduo como células do corpo social, pois a sociedade, sem as virtudes da individualidade, não formaria a civilização em todo o seu sentido humano.
Espero contribuir, de alguma forma, para saciar sua fome de justiça, no imaginário fértil da evolução que transgrida o lugar-comum da vida.
Jamil.