A obra Cronos e Mnemósine: A Jornada da Memória e do Esquecimento através das Idades , escrita pelo Professor Doutor Fernando A. Dal Piero, surge como uma peça singular no vasto panorama das investigações sobre o envelhecimento cognitivo e a memória humana. Mais do que um simples compêndio acadêmico, o livro se destaca por sua profundidade de análise e pela convergência entre mitologia, ciência e reflexões sociais, oferecendo ao leitor uma perspectiva única sobre os desafios e as oportunidades inerentes ao processo de envelhecimento. A Profundidade Temática e a Metáfora Mitológica Desde o título, a obra já indica sua ambição de tratar do envelhecimento cognitivo não apenas através de dados empíricos, mas também de uma lente mitológica e filosófica. Ao evocar Cronos, o deus do tempo, e Mnemósine, a deusa da memória, Dal Piero conecta de maneira engenhosa os conceitos de tempo e memória, sugerindo que ambos estão inextricavelmente ligados na experiência humana. A escolha desses personagens mitológicos não é meramente estética; ao longo da obra, o autor utiliza essas figuras para ilustrar como a passagem do tempo afeta a memória e, por conseguinte, o ser humano. Cronos, com seu relógio de areia, simboliza a passagem inexorável do tempo e o impacto que essa passagem tem sobre a memória, enquanto Mnemósine representa a luta para preservar as lembranças em meio ao esquecimento inevitável. Essa dualidade é explorada de forma meticulosa ao longo dos capítulos, onde Dal Piero aborda tanto os aspectos científicos do envelhecimento — como a neuroplasticidade e a capacidade de adaptação cognitiva — quanto os desafios sociais e culturais que acompanham o avanço da idade. A Pesquisa Longitudinal e a Abordagem Científica Uma das grandes forças do livro reside na base sólida de pesquisa que o sustenta. Com 15 anos de investigação longitudinal e 1600 horas dedicadas ao estudo de gênero e envelhecimento, Dal Piero traz à tona um conjunto robusto de dados que enriquecem a discussão sobre o envelhecimento cognitivo. A pesquisa detalhada e a análise estatística meticulosa permitem ao autor apresentar conclusões bem fundamentadas, que desafiam noções pré-existentes e oferecem novas perspectivas sobre o tema. Por exemplo, ao discutir a neuroplasticidade em idosos, Dal Piero evidencia como o cérebro humano, mesmo em idade avançada, mantém a capacidade de se adaptar e formar novas conexões. Este é um ponto crucial que contrasta com as teorias anteriores que sugeriam um declínio cognitivo inevitável com o envelhecimento. Ao citar estudos recentes, como os resultados do programa ACTIVE, o autor demonstra que a estimulação cognitiva adequada pode não só manter, mas até mesmo melhorar funções cognitivas em idosos. Além disso, o autor destaca a importância da educação continuada para a população idosa, não apenas como um meio de melhorar a qualidade de vida, mas também como uma ferramenta essencial para a inovação e produtividade societal. Esse aspecto é particularmente relevante à luz das mudanças demográficas globais, onde o envelhecimento populacional se tornou um desafio para muitas sociedades. Dal Piero argumenta que a educação ao longo da vida pode manter os idosos engajados e produtivos, contribuindo para a sociedade de maneira significativa. Tecnologia, Biologia e o Futuro do Envelhecimento Outro tema recorrente e de grande relevância na obra é a intersecção entre tecnologia e biologia. Dal Piero explora como avanços em dispositivos vestíveis, inteligência artificial e análise de big data estão transformando a maneira como monitoramos e cuidamos da saúde dos idosos. Essas tecnologias não só oferecem novas maneiras de detectar e intervir em casos de deterioração cognitiva, mas também abrem possibilidades para personalizar tratamentos e promover um envelhecimento mais saudável.