Este volume se chama Crônicas, taokey? Mas poderia perfeitamente ser "O Caos Nosso de Cada Dia – A saga continua" ou "O quiabo anticomunista". São 37 textos cheios de humor e irreverência, nos quais Carlos Eduardo Novaes faz o que sempre fez, e como ninguém: a crônica do cotidiano político, o diário das desventuras de Braziville, este país nem tão fictício, onde o impossível sempre dá um jeito de acontecer. Durante o regime militar, ler Novaes era ter acesso a um Brasil sem filtro, sem milagre. Continua sendo, neste Brasil que mudou tanto e ainda é "o único país deste planetinha mal resolvido que concentra em seu território todas as etapas da História da Civilização. Temos gente vivendo na Pré-História, na Antiguidade, na Idade Média, na contemporaneidade e gente que já vai longe, no pós-moderno". Saem os xerifes de cinco estrelas, como João Figueiredo (ops, Bap Figuerey) e o superministro Delfim Neto, entram Jair Bolsonaro e o superministro Paulo Guedes. Saem a inflação, os exilados, os agentes da CIA – entram Queiroz, a gripezinha e a paz de Pazuello. As crônicas deste livro cobrem o período que vai das vésperas da eleição presidencial de 2018 até praticamente anteontem. Seus personagens estão diariamente nos jornais – e não necessariamente por suas virtudes. Em breve, muitos desses atores serão nota de rodapé nalguma "página infeliz da nossa História". Mas os cronistas das primeiras décadas do século 21 terão pintado um retrato mais vivo, mais perene, a ser consultado pelas próximas gerações. Que talvez tenham dificuldade para entender como pudemos ser, a um só tempo, modernos e medievais, neandertais e sapiens. E como era viver o caos nosso destes dias. Eduardo Affonso, Jornalista de O Globo