Não acredito em vida após a morte, pois, para mim, isto é uma forma de alento para aqueles que temem o momento derradeiro. Ressurreição é um pleonasmo tão absurdo, que só é admissível aos que saíram da Idade Média e retornaram à Idade da Pedra. Céu e inferno não existem, pois eles são, ao meu ver, períodos ou passagens da complexa vida. Quando estou com saúde, paz e repleto de felicidade, posso lhe assegurar, com benevolência, que estou no centro do céu, porém, se estou em decrepitude no leito de um hospital, sendo constantemente picado por agulhas de injeções, com falta de ar, morrendo de dores, ou em uma cadeira de rodas ou prostrado em uma rede, incontestavelmente, na minha concepção, estou em plena efervescência no epicentro do inferno. Acreditar em reencarnação é puro delírio e, acima de tudo, uma demonstração de que o pavio de sua mente é demasiadamente curto. Sempre procurei ajudar os mais enlanguescidos, porque, após sucumbir, nada poderei fazer em prol dos vivos. Tenho uma real convicção de que, se sou mortal, devo doar o máximo de mim, dando amor, respeito, afeto e carinho, porque sei que esta virtuosa atitude será sempre uma forma de amenizar o sofrimento daqueles que se encontram em desespero. A alma nada mais é do que ânimo, sopro e oxigênio. Se vivo estou, certamente minha alma viverá. Após minha morte, ela perderá seu ânimo, seu sopro e seu oxigênio, aí, sim, no meu corpo inanimado, jamais existirá alma alguma, a qual morrerá juntamente comigo.